Pequeno Comentário sobre o Perfil e os Desafios do Empreendedor
Bernardo Leite Moreira
Posso definir o tipo empreendedor como aquele trabalhador que objetiva uma atividade autônoma e que pretende colocar um “sonho” em prática. Mas só isso não basta. Para caracterizar-se o empreendedor é necessário muito mais. O sonho presente é o início, mas é o sonho futuro que caracteriza o negócio. É a expectativa de realização, muitas vezes insensata, mas confiante, que possibilita colocar-se em prática uma atividade que encontra obstáculos fantásticos em todas as suas características. Normalmente, as idéias de negócio embutem um componente de “sonho” e, portanto, aparentemente inviável e repleto de características sonhadoras, quando analisado sob um prisma racional. Mas empreender para sobreviver é alternativa, não é empreendimento. Eventualmente o desemprego, a demissão, as dificuldades na administração dos conflitos organizacionais, ou até mesmo a expectativa de trabalho sem pressão de horário, de chefia e de responsabilidades estressantes podem ser motivo de uma atuação autônomo mas, não configura o perfil do empreendedor. Para começar, o perfil do empreendedor coexiste com a visão de oportunidade. A oportunidade do negócio, do crescimento, do atendimento à determinada necessidade, nova ou aperfeiçoada, de uma atividade profissional. O fazer diferente, o fazer melhor, a utilização de tecnologia diferenciada, seja técnica ou pessoal. Em suma, uma contribuição que faça diferença é o princípio do negócio. O raciocínio de valor agregado é inerente ao empreendedor. É conceito que ele não aprende, já existe em sua expectativa de realização. Assim começa um negócio. Assim uma empresa deve posicionar sua missão. Consequentemente, o negócio passa a ter uma identidade. Outros iguais podem ou devem existir no mercado, mas este é único, tem características próprias. Podemos observar grandes empresários que apresentam, ocasionalmente, comportamento mais conservador e, algumas vezes, até reativos às inovações no seu negócio, mas, sem dúvida, não foi esse comportamento que os levou ao estágio de desenvolvimento em que se encontram. Peter Drucker identifica essa situação de maneira bastante interessante, com uma frase assim: “nossos maiores problemas de hoje são conseqüência dos nossos sucessos de ontem!”, consignando que os sucessos tendem a levar a um comportamento de repetição e de acomodação. Por volta dos anos de 94 e 95 comecei a ouvir, de diversos empresários, um depoimento que, sinteticamente, exprime a seguinte questão: “ minhas respostas de ontem não resolvem mais os problemas de hoje”. Freqüentemente, esse depoimento está acompanhado de um sentimento de impotência e perplexidade! E se falamos de um retorno à vocação dos negócios para as empresas, podemos extrapolar o raciocínio para a ação do empresários como um “retorno ao perfil do empreendedor”. E é da superação das dificuldades, fundada na perseverança, por vezes obsessiva do alvo definido, da confiança na idéia, no sonho ou na contribuição diferencial do negócio, que identifica-se o caráter empreendedor. MAS NOVOS PERFIS SÃO, HOJE, NECESSÁRIOS! Há duas décadas, a especialização, o conhecimento e mais um grupo coeso poderiam ser considerados condições adequadas para o desenvolvimento de um ideal. Hoje, porém, novas considerações se fazem necessárias. Por exemplo, a alta demanda de informações, a pressão tecnológica, o ritmo das mudanças e a necessária diversidade de características pessoais condicionam uma nova composição do grupo de apoio ao desenvolvimento de um idéia. Estou me referindo às necessidades de parcerias, de trocas de informações e de pessoas que contribuam de maneira diferente ao negócio. Hoje torna-se inviável desenvolver um negócio com o esforço de apenas uma pessoa. Isso foi possível no passado. As novas exigências reclamam perfis diferenciados que só seriam reunidos em um super-homem. A única alternativa, então, são várias pessoas para compor esse perfil diferenciado e exigente! Percebam, portanto, que o novo empreendedor, além das características inerentes ao perfil tradicional, precisa ser um aglutinador de interesses múltiplos, de pessoas que não deverão pensar como ele. É a contribuição adicional, ou se quiserem, o valor agregado para o desenvolvimento dos negócios. E como a arte imita a vida e vice e versa, já dizia Nelson Rodrigues: “a unanimidade é burra!”. Texto extraído do livro – Ciclo de Vida das Empresas – de Bernardo Leite Moreira.
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